sábado, 31 de março de 2007

sexta-feira, 30 de março de 2007

Claramar


à Clara (nascida ontem) e a seus pais, Paula & Frank.


Clara luz
alumiou mundo-lar
E é delicioso
ver seu soninho sonhar

Chora e mexe as perninhas
sabendo do leite fresquinho
que bebe no ninho
daquela que sabe amar.

quinta-feira, 29 de março de 2007

gata vadia

em telhado e lua cheia
banho de língua
depois vagueia
dorme, espreguiça
e quando sente mãos no dorso
ela arqueia

o gato vem, ladeia
mia, ronrona mas não chateia
e a gata com malícia e novelos
faz sua teia
oferecendo deli(cio)sa ceia...
na veia!

quarta-feira, 28 de março de 2007

volúvel

gostaria de ser como uma flecha
com direção e alvo certo
mas, até aqui
tal qual uma folha

sigo flutuando
ao sabor dos ventos...

segunda-feira, 26 de março de 2007

música é poesia e vice-versa

faço poesia porque não sei fazer música;
não faço música porque não sei fazer poesia;
não faço poesia porque a música é maior;
a música é maior porque a poesia é necessária;
poesia é ária para ouvidos delicados;
ouvidos delicados só ouvem música & poesia;
faço poesia.

domingo, 25 de março de 2007

espiral

minha vida gira em ciclos
na roda mutante espiral
como os sulcos do disco na agulha
queima, arde em fagulha
exalando odor musical

sábado, 24 de março de 2007

Belíssimo Disco!!!

Essa é a capa (linda, né?) de um dos CDs que eu mais gosto de ouvir. Disco de estréia (2004) de JUNIO BARRETO, um pernambucano arretado de Caruaru, um cara simples, tranqüilo, modesto, gente boa, quase zen, já tive o prazer de conversar com ele. Junio faz um samba que agrada dos moderninhos aos tradicionais. É amante da obra de João Guimarães Rosa e suas músicas têm muita poesia (adoro a poesia dele!). O cara une com perfeição sambas melodiosos e belos versos. Destaque também para sua voz de tenor. Gal e Bethânia já são fãs. Vale a pena conferir!

Ficha técnica:
JUNIO BARRETO
JUNIO BARRETO
2004 - gravadora Trama

Faixas:
1. Qualé Mago.
2. Se Ver que Vai Cair Deita de Vez.
3. Amigos Bons.
4. Aclimação.
5. Oiê.
6. Santana.
7. Passeio.
8. Do Caipora ao Mar.
9. A Mesma Rosa Amarela*
10. Se Ver que Vai Cair Deita de Vez (remix)

*De Capiba e Carlos Pena Filho.
As demais canções são de sua autoria ou em parceria com outro compositor.



Eis uma das faixa: Santana

quinta-feira, 22 de março de 2007

mutação

minha vida há de ser uma roda
girando em torno adentro
sem muita encanação
que flua crua nua
no ponto de mutação

terça-feira, 20 de março de 2007

O Carnaval do Nicomar

Queridos e queridas,

A contragosto cedi, por hoje, o espaço desse blogue à minha estimada, digo, ao meu estimado amigo Ernesto Gamuza. Já fazia tempo que ele não aparecia por aqui, né não? Mas ele ficou um tanto indignado comigo por levantar suspeitas sobre a idoneidade do Dr. Nicomar Lael. Só permiti que escrevesse aqui porque sei que está bastante apaixonado por esse advogadozinho meia-boca. Fazer o quê? O amor é cego...

Agora Ernesto, faz favor! Nada de pornografia, estou numa fase zen, nada de excessos, viu?!

Segue o texto (pequeno, ainda bem!):


...Quando avistei aquela moça percebi no ato que tratava-se de um
homem, ou melhor, uma biba. Quanto riso, oh quanta alegria! Minha nossa! Aquele homem dançando caboclinho, frevo, maracatu, era de uma graciosidade... nham, nham, nham! Aproximei-me dela, digo, dele, que estava semi-nu com saia de índia xucuru. Sussurrei obscenidades em seus ouvidos e senti que ficou arrepiado. Segurei em sua mão e fomos para o Pátio de São Pedro, onde sentamos num bar e começamos a conversar.


- Pelo seu sotaque...você não é daqui, é? – perguntei eu.
- Sou paulista – disse ele ajeitando a saia com muita sensualidade.
- É a primeira vez que vem a Recife?
- Sim, um amigo meu pernambucano, que mora em Sampa, disse que Pernambuco tem o melhor carnaval do mundo. Então resolvi conferir.
- Hummm, sei...- disse eu, louco para agarrá-lo – e aí, ta gostando?
- Noooossa! Tô a-man-do! Marconi, o meu amigo pernambucano, tem toda razão! Isso aqui é bom demais, gente! Inicialmente pensei que fosse ufanismo dele.
- Que beleza, seu entusiasmo... – disse eu, quase babando - Mas me diga uma coisa: Com quem você aprendeu a dançar tão bem frevo, caboclinho, maracatu... hein?
- Ora, com quem mais eu poderia ter aprendido? Com o Marconi, claro. Quando ele ainda morava aqui fez parte do Balé Popular do Recife. O Marconi Leal é ma-ra-vi-lho-so! Além de ser um excelente escritor, dança feito uma louca, digo, um louco.
- Já ouvi falar nesse tal Marconi. Minha amiga blogueira, Sandrinha, costuma visitar o blogue dele. Mas... que tal mudarmos de assunto? Quer ir para um lugar mais aconchegante, onde possamos ficar a sós? – disse eu, com todo o meu poder de sedução.
- Claro, achei você um gato. Vamo nessa!

E assim conheci o Dr. Nicomar Lael, um amor de pessoa, muito inteligente, muito gracinha, muito bonitinho, muito ordinário, muito gostoso, muito...

Bem, Sandrinha pediu-me discrição, portanto para decepção dos tarados de plantão, não entrarei em detalhes sobre o nosso encontro amoroso. Mas devo confessar: ainda estou apaixonado... Ai, Cristo!

Ernesto Gamuza


sábado, 17 de março de 2007

Dalai Lama ou Uma Mulher do Mangue

do lama ao caos
do meu caos ao lama
Antes tarde do que nunca: Uma acanhada homenagem a Chico Science que completaria no último dia 13 de março 41 anos de idade.
Será que nessa brincadeira eu alcanço a sabedoria, hein?

sexta-feira, 16 de março de 2007

Feliz Coincidência

Vejam só,

Estou lendo um livro sobre budismo tibetano (pois é, ainda estou tentando ficar zen) e descobri que existe um rito chamado Cerimônia do Refúgio. No budismo, "refugiar-se significa encontrar um abrigo espiritual verdadeiro, um local onde se possa repousar o coração e a mente, em segurança" (Lama Surya Das. O Despertar do Buda Interior).

Tô meditando, tô tentando. Exige dedicação, tranquilidade e determinação. Não é fácil, como tudo na vida, né? Ah, a vaidade! Como é difícil livrar-se da vaidade. Ah, o apego! Como é difícil livrar-se do apego. Sou até bastante desapegada das coisas materiais mas me desapegar das pessoas é duro, é duro. Amar sem se apegar: isso é libertação. Mas quão é difícil. Então, haja meditação...

O MI TO FO

(do chinês: o meu Buda saúda o seu Buda).

quinta-feira, 15 de março de 2007

A Falha & O Falo

sou falha
me falho em flores
desfolhada flora
deflorada falha
insisto e falho
falho
mas me valho
dessa falha lambida do meu corpo
onde aninha-se
desavergonhadamente
o teu falo.

segunda-feira, 12 de março de 2007

Da Verdade dos Sonhos


Atenção: essa história não é real mas bem que poderia ser...

Antônio era um sujeito bacana, bem-humorado, tranqüilo e simples, muito simples. Trabalhava como motorista de ônibus da empresa Jotude e geralmente realizava as viagens Recife-Caruaru. Há dez anos trabalhava nessa profissão e andava bastante cansado, pensando em mudar de vida. Mas Antônio era casado e tinha três filhos pequenos, ou seja, muita responsabilidade. Se fosse solteiro já teria largado o emprego mas...

Às 19:00 de uma noite chuvosa Antônio partiu de Recife para Caruaru dirigindo um ônibus da Jotude. Ônibus lotado de passageiros. Antônio tinha discutido com Zuleika, sua companheira, antes de sair de casa e estava bastante nervoso. Chegou na rodoviária um pouco atrasado. Deu um ”boa noite” seco aos passageiros e assumiu seu posto –a cadeira do motorista. Antônio detestava dirigir na chuva, principalmente à noite, quando a visibilidade fica ainda pior. Dirigiu irritadíssimo até Gravatá, município próximo de Caruaru, quando parou o ônibus num posto de gasolina e foi até um orelhão dar dois telefonemas. Depois disso voltou ao ônibus, pegou sua bolsa e partiu andando pela estrada embaixo de uma chuva torrencial sem dar uma explicação sequer aos passageiros que ficaram indignados, com exceção de uma garota meio hippie que entendeu no ato a atitude libertária do motorista. Ela achou o máximo!

Antônio tinha ligado para a empresa de ônibus avisando que estava abandonando o trabalho. E para Zuleika, dizendo que um dia retornaria e que a poupança que fizera seria suficiente para ela e as crianças sobreviverem por alguns meses. Antônio percorreu a pé uns 10 km de chão. Chorava um bocado, não porque estivesse arrependido de sua decisão mas porque não sabia o rumo que daria a sua vida. Estava livre do trabalho que o enfadava mas estava perdido, completamente desorientado. E sabia que não seria fácil recomeçar do zero. E sentiu medo. Parou diante de um motel de beira de estrada e alugou um quarto, caiu na cama e dormiu num instante de tão exausto que estava. Dormiu e sonhou. Sonhou criança com seu pai, já falecido, brincando de teatro de bonecos. O pai de Antônio foi artista de mamulengo (teatro de bonecos do nordeste) e Antônio, quando menino, ajudava seu pai e dizia que quando virasse homem seria artista. Mas veio a adolescência, brigou com o pai e esqueceu o sonho de criança.

Quando acordou pela manhã naquele quarto de hotel, Antônio decidiu retomar aquele sonho antigo, promessa de criança. Nunca se sentira tão feliz com uma decisão e sentiu a paz invadir o seu coração. Saiu do motel e foi pra Caruaru, procurou Mestre Maximiano e (re)aprendeu toda a arte do mamulengo. Em pouco tempo, com materiais baratos, criatividade e entusiasmo, Antônio criou seu próprio teatro de bonecos. Voltou a Recife depois de seis meses numa caminhonete vermelha, com um artista/assistente e muita coragem para encarar a ira de sua companheira. Zuleika custou a perdoá-lo mas no fim, fascinada com o mamulengo, cedeu e embarcou na aventura encantatória de Antônio.

Atualmente Antônio, Zuleika e as crianças vivem com dificuldade, a vida não é fácil. Mas são os artistas mais alegres das feiras e festas das cidades do interior.

sexta-feira, 9 de março de 2007

8 de março - FORA BUSH!

O 8 de março deste ano foi marcado por diversos protestos contra a presença do presidente WASP (branco-anglo-saxão-protestante)na América Latina - ontem e hoje no Brasil. Destacaram-se, a meu ver, os protestos das mulheres da Via Campesina e do MST contra o agro-negócio.

Em negociação nessa sexta-feira entre o governo brasileiro e o norte-americano, será discutido o aumento da produção de etanol. Nada que interesse aos pequenos agricultores e trabalhadores rurais, explorados nas plantações e usinas de cana-de-açúcar.

As manifestantes lembraram que a cana sempre serviu para a manutenção do colonialismo no Brasil (será um novo ciclo da cana-de-açúcar?) e que nosso país é usado como quintal dos EEUU. Certíssimas.

Além disso o aumento da produção de cana-de-açucar não é bom para o meio ambiente devido às queimadas que provocam doenças respiratórias. As mulheres também reivindicam alimentos mais saudáveis e exigem o fim das plantações trangênicas.

Mais protestos ainda hão de vir...

Bem, vou ficar por aqui.


Esse pequenino e apressado texto foi só uma necessidade minha de demonstrar apoio aos protestos das mulheres (sou uma delas, né?) e a todos que gritam: FORA BUSH!

Um abraço.

quarta-feira, 7 de março de 2007

8 de Março

Em homenagem ao Dia Internacional da Mulher pensei em escrever sobre a violência a que são submetidas (NÃO ESQUEÇAMOS, NÃO ESQUEÇAMOS), sobre o direito ao aborto (NÃO ESQUEÇAMOS, NÃO ESQUEÇAMOS), sobre a discriminação sexista (NÃO ESQUEÇAMOS, NÃO ESQUEÇAMOS), sobre os baixos salários e desemprego (NÃO ESQUEÇAMOS)...
Mas o tempo urge e eu não queria escrever um texto apressado e descuidado sobre assuntos tão sérios. Sendo assim resolvi navegar na rede e descobri esse texto que gostei um bocado, da Maria Rita Kehl. Certamente eu não escreveria texto melhor. Mas não se trata de um manifesto contra a violência, nem sobre o direito ao aborto, etc, etc, etc. Trata-se de uma bela história (real) de amor entre um homem e uma mulher. Ei-la:

O Sartre de Simone

Eles formaram o casal símbolo das esperanças libertárias dos tempos modernos . O amor e a paixão da amizade, que os uniram por mais de 50 anos, até a morte de Sartre, consolidaram-se em torno de um objeto comum: a verdade. Mas como é impossível viver na verdade, o encontro entre Sartre e Simone inaugurou-se com uma mentira. Em 1929, quando licenciou-se em filosofia na Sorbonne, Beauvoir estava envolvida em uma relação platônica com André Herbaud, amigo de Sartre. Quando Jean-Paul propôs-lhe um encontro, Simone inventou uma desculpa e pediu a sua irmã que a substituísse. Esta, ao voltar do passeio, disse que Sartre engoliu a mentira “cortesmente”.

Poucas semanas depois, Castor entraria com Herbaud e Nizan no quarto de Sartre para estudar Leibniz. Já no primeiro encontro percebeu que Sartre era o que mais sabia no grupo. Ganhava todas as discussões, mas mostrava uma genuína alegria em compartilhar seu saber. “Era um maravilhoso treinador intelectual”, escreveu Simone em seu diário . Sartre estava com 23 anos, Simone com 21. Depois deste primeiro contato, seguiu-se um período de alegre camaradagem entre Simone e os três rapazes, que a consideravam como uma igual: a moça de família burguesa e formação católica não se chocava com a liberdade da conversa masculina. Em pouco tempo, a amizade de Sartre prevaleceu sobre a dos outros dois: “todo tempo que não passava com ele era tempo perdido”.

Para Beauvoir, Sartre foi o companheiro que não exigiu que ela renunciasse a si mesma. Para ele, Castor foi a cúmplice em um projeto que raras mulheres de sua geração aceitariam: uma parceria amorosa radicalmente anti burguesa, que excluía casamento, filhos, formação de patrimônio. Uma união em que o pensamento e a escrita sempre estiveram em primeiro lugar, seguidos do companheirismo, do prazer da conversa, da paixão pela política. “Bruscamente, não me achava mais só”, escreveu Simone, surpresa por ter encontrado um homem que a dominava intelectualmente, mas estimulava-a para que se tornasse sua igual. “Com ele, poderia sempre tudo partilhar ”.
Não foi um arroubo de juventude. Sartre e Simone bancaram, durante 51 anos, a ousada proposta do que Benjamin Péret chamou de amor sublime, entre homem e mulher capazes de fazer, do encontro amoroso, condição de sublimação. Sartre não tinha interesse em dominar Simone. Sua liberdade o interessava, assim como seu talento e sua produção escrita. Foram sempre os primeiros leitores dos livros que um e outro escreviam. Nunca moraram na mesma casa. Mesmo durante a doença de Sartre, os hábitos do agradável cotidiano compartilhado respeitavam os limites da autonomia de cada um. Passavam, juntos, uma parte das férias; depois, cada um viajava para o seu lado. “Mas a separação de Sartre sempre era um pequeno choque para mim”, escreveu Beauvoir.


A longa lista de casos amorosos de Sartre, todos do conhecimento de Simone, tinha relação com o prazer que ele sentia em ocupar, diante de outras mulheres, a posição masculina tradicional, de domínio e poder. É possível que o racionalismo que marcou a parceria entre Sartre e Simone, condição para que o casal sobrevivesse à arriscada proposta da liberdade sexual de ambos, tenha lhes custado o preço de uma certa deserotização. Na longa entrevista que Sartre concedeu à sua companheira em 1974, o interesse dele por outras mulheres foi discutido abertamente; àquela altura, o triunfo de Beauvoir sobre todas as outras estava consolidado. Com outras mulheres, Sartre experimentava o mundo singular de cada uma. Porém: _ “O mundo, eu o vivia com você ”. Parecia um amor esfriado; talvez não fosse. “Amo muito você, minha querida Castor”, teria lhe dito Sartre no hospital, dois dias antes de morrer.

A morte de Sartre deixou Simone em estado de choque. Tentou deitar-se junto ao corpo dele no leito do hospital, debaixo dos lençóis. Ficou seriamente doente e esgotada nas semanas que se seguiram. Foi uma despedida dolorosa. “Sua morte nos separa. Minha morte não nos reunirá. Assim é: já é belo que nossas vidas tenham podido harmonizar-se por tanto tempo”.

Maria Rita Kehl - Doutora em psicanálise pelo Departamento de Psicologia Clínica da PUC de São Paulo. Conferencista, ensaísta e poeta. Participação na imprensa desde 1974 com artigos sobre cultura, comportamento, literatura, cinema, televisão e psicanálise. Autora de ensaios em diversas coletâneas.