quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

É uma banda portuguesa, com certeza!


"O Quiosque da Utopia", "O Museu Nacional do Acessório e do Irrelevante", "A Grande Enciclopédia do Conhecimento Obsoleto", e "O Depósito de Refugos Postais" são apenas alguns álbuns da Pior Banda do Mundo, formada por Sebastian Zorn (saxofone, líder da banda e serrilhador de selos), Ignacio Kagel (contrabaixo e fiscal municipal de isqueiros), Anatole Kopek (bateria e criptógrafo de segunda classe) e Idálio Alzheimer (piano e verificador metereológico).

Brincadeira? Sim, sim e das melhores! A Pior Banda do Mundo, na realidade, é uma série de banda desenhada (HQ em Portugal) do português José Carlos Fernandes, um jovem de apenas 44 anos que a cada álbum se apresenta de maneira diferente (nada mais condizente com o espírito do jazz). Além de um belo traço, José Carlos tem ótimos argumentos e um humor elegante e irônico.

Em "Os Melhores Anos de Nossas Vidas"- um dos 23 mini-contos do álbum "O Depósito de Refugos Postais" - os personagens falam de suas lembranças de infância que só existem em suas imaginações. Em "A Insustentável Escalada dos Padrões Estéticos" - crítica mordaz aos atuais padrões de beleza - mostra como Aníbal Ecksmen, desenhador de comic books, precisou refazer os super heróis. E "A Inebriante Fragrância dos Bestsellers" conta a estratégia de algumas editoras para tornar um livro sucesso de vendagem. Estes são apenas alguns exemplos de histórias do José Carlos Fernandes que tem rara sensibilidade na observação do cotidiano e dos sentimentos humanos. Seus contos, ainda que sejam de humor, despertam uma certa melancolia quando narram histórias onde os personagens encontram "soluções" que amenizam desilusões e o caos da existência humana. Ou - em outra história - quando um carteiro troca propositalmente as correspondências só para suscitar novas/velhas emoções nas pessoas, quebrando a rotina da vida cotidiana.

Cada álbum ainda traz um "acerto de contas" onde menciona citações e referências a escritores e poetas famosos; uma "banda sonora" onde especifica os "samples" utilizados em cada álbum, com os grandes do jazz; e um índice remissivo bastante útil e prático...

Outra coisa legal é ler o português de Portugal. Aprendi, por exemplo, que "cupom" pode ser dito/escrito "cupão" e "registro", "registo" (ambas as formas estão corretas, cá e lá). E você sabia que nadar 200m borboleta equivale, em Portugal, a 200m mariposa? E a miudagem é a meninada/criançada - mas isso eu já sabia lendo Mafalda em edição portuguesa. Adoro isso. Viva a diferença! Viva a lusofonia!


PS: dedico esta postagem a Miguel, que me emprestou os quadrinhos. Valeu, Miga!

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009