segunda-feira, 5 de setembro de 2011

"Cultura" - Arnaldo Antunes

Este vídeo-música-poema faz parte do dvd Nome (1993) de Arnaldo Antunes. Hoje de manhã estava revendo as músicas desse dvd pelo youtube pois não o tenho em casa. Assisti há quase 20 anos na biblioteca central da UFPE quando ainda cursava arquitetura. Lembro que gostei demais. Como tenho relido poemas de Leminski e também a poesia visual de Augusto de Campos, lembrei do Arnaldo que tem uma influência inegável desses poetas.


Arnaldo Antunes, desde a época dos Titãs, faz das letras de suas músicas, poemas (ou seriam poemas que se fazem música?) que são musicais por si próprios, independente da melodia. Claro que a música acrescenta maior graça (e ritmo) às letras. Quem já ouviu "O que" do disco Cabeça Dinossauro (1986) dos Titãs, sabe do que estou falando. Cantei  (e dancei) um bocado essa música. Aliás o disco todo, um dos melhores dos Titãs.


Em Nome (livro, cd e dvd), seu primeiro trabalho solo depois que saiu dos Titãs, Arnaldo leva ainda mais longe seu trabalho como poeta/músico e acrescenta a poesia visual  realizando vídeo-poemas. Acredito que, pelo fato de gostar mais de música do que poesia, tenho preferência por poemas que têm ritmo, ludicidade, que brincam com a sonoridade e o conceito das palavras. E como também gosto de artes visuais, o dvd Nome me agradou logo de cara! Poderia ter escolhido outro poema-música do dvd mas escolhi "Cultura" não apenas porque considero muito criativo mas, principalmente, pelo verso final que acho maravilhoso: "bactérias num meio é cultura". E quem há de lhe contradizer? É fato (risos).


PS: não poderia deixar de mencionar a participação impecável de Marisa Monte - nesta e em outras músicas do dvd - que, por onde passa, deixa seu brilho!


Eis o vídeo


4 comentários:

Halem Souza disse...

Gosto do lado musical de Arnaldo Antunes, mas não gosto de sua poesia (prefiro a tal poesia "meditabúndia", que irritava - veja só! - J. C. de Melo Neto, hehehe).

Mas é curioso você mencionar o texto Cultura. Eu o conheci através do livro As coisas, publicado em 1992 (Editora Iluminuras). E usei-o uma vez no meu trabalho com crianças (este texto também aparece na antologia Poesia quando nasce, da Editora Melhoramentos, voltada para o público infantil). As crianças se divertem com versos como "O pescoço é a barriga da cobra"...

Mas me explica essa: uma poeta que gosta mais de música do que poesia?

Um abraço.

o refúgio disse...

Halem, rsrs... sei que é meio paradoxal gostar mais de música do que poesia mas é isso mesmo, não sei explicar. E digo mais: foi através da música que cheguei à poesia, ouvindo Caetano, Gil, Chico, entre outros/as. Acho que é por isso, a música chegou primeiro e, espaçosamente, tomou um bocado do espaço reservado às minhas paixões, rs...

E as crianças curtem mesmo os poemas/músicas do Arnaldo Antunes, me incluo entre elas ;)

Um beijo

Ulisses disse...

Sandra, assino embaixo de cada palavra do teu comentário. Como tu, muitas outras pessoas começaram a descobrir e a gostar de poesia através da música. Acho que a "música-poema" tem um poder de propagação que o "poema-poema" não tem. Porque o que toca nas rádios, sem o nosso esforço de ter que pagar por isso para conhecer (como fazemos com os livros. Alguém compra livro de poesia hoje em dia?), consegue impregnar de uma forma que, às vezes (muitas), a gente nem percebe. Basta apenas ter a sensibilidade de se permitir ouvir (e ler) o que tem de bom por aí. Além do Arnaldo, um outro exemplo que me vem à cabeça sempre em se tratando de "música-poema" é o Vinícius, como não poderia deixar de ser. Mas, além dele, existem muitos outros artistas da música que, para mim, são verdadeiros poetas. Chico, Caetano, Adriana Calcanhotto... A própria Adriana uma vez numa entrevista, disse que não conseguia separar as coisas. Que elas podem ser separadas sim, mas que também podem nascer juntas, como se não fossem nem uma coisa e nem outra, ou melhor, fossem as duas ao mesmo tempo sendo uma coisa só. Porque como todos sabemos, poesia também tem ritmo, poesia tem melodia própria mesmo quando não é musicada. Como tu, devo muito à música pelo fato de gostar de ler (e de fazer) poesia. E o inverso também acontece. Quando leio ou faço poesia, às vezes aquilo pode, para mim, já nascer como se fosse música. Talvez seja sim, paradoxal, mas não deixa de ser uma verdade. Música e poesia estão totalmente conectadas uma à outra mesmo quando a gente não percebe. Lógicamente que não me refiro aos funks da vida, mas, por exemplo, como deixar de reparar nas letras do Caetano quando ouvimos aquelas músicas? E aqueles livros do Chico que têm as letras das músicas dele? Não seria, na maioria das vezes, poesia? Aquilo poderia ter sido registrado somente em livros, sem a voz, para os olhos apenas, que seria sim, poesia. Ah, e pra terminar, porque caso contrário ficarei aqui escrevendo horas ("escrevendo eu falo pra caralho!"), não somente acho agora como tenho certeza, de que sensibilidade poética é somente para quem tem. E tu tens! Parabéns pelos belos posts!

o refúgio disse...

Ulisses, querido, fica à vontade. Fale o quanto queres pois é tudo da lei, da lei... Agora parafraseei Raul Seixas, rs...

Grata pelo cometánrio e já q no seu blog não tem espaço pra comentários queria dizer que adorei aquele post com uma música do disco Racional do Tim Maia. Aquele disco é maravilhoso apesar de ter sido uma fase bem pirada do Tim, quando ele virou seguidor da seita Racional Superior...

Beijos