domingo, 4 de março de 2012

Diário de um Louco (fragmento)

Nicolai Vassiliévitch Gogol (1809-1852)

Madri, 30 de fevereiro

(...) Mas eu fiquei profundamente desolado com um acontecimento que deverá ocorrer amanhã. Amanhã, às sete horas, se dará um estranho fenômeno: a Terra sentará sobre a Lua. O célebre químico inglês, Wellington, fala a respeito. Confesso que senti uma viva inquietação quando imaginei a delicadeza e fragilidade extraordinária da Lua. Sabemos que a Lua é feita habitualmente em Hamburgo e de um modo abominável. Fico estarrecido que a Inglaterra não preste atenção nisso. É um tanoeiro manco que a fabrica e é claro que este imbecil não tem a menor noção da Lua. Ele coloca um cordão asfaltado e uma medida de óleo de oliva; espalha-se então sobre toda a Terra uma tal fedentina que é preciso tapar o nariz. Daí resulta que a própria Lua é uma esfera tão delicada que os homens não podem viver nela. No momento ela é habitada tão somente por narizes. Eis a razão pela qual não podemos ver nossos narizes: eles estão todos na Lua. (...)

Nicolai Gogol, Diário de um Louco (1835-36), L&PM , 2000.



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