sábado, 28 de abril de 2012

todo dia é o fim do mundo



Pra quem não conhece, Lula Queiroga é um dos parceiros musicais de Lenine (que imagino que tod@s que me leem conhecem). Compositor dos melhores, Lula acaba de lançar seu quarto álbum: Todo Dia é o Fim do Mundo. Ainda não ouvi o disco, só a faixa-título, que adorei!

Segue um texto - excelente, por sinal - do próprio Lula.


LULA Q POR LQ

A ideia base deste novo disco: Todo dia é o fim do mundo nasce de uma pergunta besta que sempre me assolou o pensamento. Como a raça humana conseguiu chegar até aqui? Se somos tão frágeis, se nascemos tão dependentes? A resposta seria Darwiniana: adaptando-se. A qualquer circunstância. Morrendo e nascendo mais resistentes. Insistindo e perseverando por instinto. Vingando, no sentido matuto e épico da palavra. Como um cacto no deserto hostil. Aí veio a era industrial, a urbanidade desordenada. A necessidade de sobreviver no caos. Do corpo e da mente. A grande odisseia humana em busca da felicidade. O fim virá para todos. Mas não como extinção imediata e datada da vida na terra. Porque não se trata de oráculos bíblicos, previsões fatalistas, Nostradamus, colisões meteoríticas, derretimento dos pólos. Não. Todo dia é o fim do mundo é sobre o apocalipse diário, o pequeno drama cotidiano, vivido de sol a sol, de chuva em chuva, de fome a fome, de coração a coração. É a respeito dos sobreviventes do cataclisma pessoal de cada instante. Dos heróis anônimos que têm que matar um leão a cada dia. E que no dia seguinte acordam para enfrentar tudo de novo. Da vida à deriva. Dos que se refugiam na loucura pra atenuar a falta de norte. Dos que perdem e dos que vencem momentos. E que de uma forma ou de outra, como mariposas, caçadoras de luz, conseguem encontrar, mesmo efêmera, a fagulha fátua da alegria e da divindade. Para mim, dar forma sonora e consistência a esse conceito chave, virou um mergulho. Aprendi , ano passado com Ronaldo Fraga mestre no quesito: arte é imersão. Musica é deixar afundar no redemoinho. Daí, com a companhia de Yuri, Lucky Luciano, Tostão e Paulo Germano, entramos no estúdio aqui da Luni, em Recife e começamos a procurar as melodias para as vozes, o timbre para cada fonte sonora. Tocando e compondo ao mesmo tempo. Ocupando os vazios, valorizando pausas. Envolvendo a canção com casulos harmônicos. Lembrando outras que já existiam. Antecipando mixagens. Perseguindo o que ainda não existe. Tomando sempre o cuidado de nunca sucumbir ao meramente sombrio. Porque a simples menção do fim do mundo pode ser uma armadilha.
Todo dia é o fim do mundo é um disco com 12 faixas quase coladas umas às outras. A ordem original não surgiu ao acaso. Mas como toda ordem pode ser descumprida ao gosto randômico de cada um. Até porque são músicas que independem umas das outras.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

emoción de la panza


Ao falar em emoção, a maioria lembra aquele órgão que pulsa involuntariamente, o coração. Pra mim é no estômago ou - mais coloquial e afetuosamente falando - na barriga que as emoções mais se manifestam.

Quando digo "emoções" refiro-me a praticamente todas elas. Sabe aquele nervosismo que dá quando a gente tem que falar em público? Quem é tímido sabe do que estou falando. Pois bem, em mim esse tipo de situação me leva a procurar desesperadamente por um banheiro...

E tem aquele friozinho que dá na barriga quando a gente encontra aquela pessoa que nos faz suspirar...aiai... Sem dúvida, é na barriga que se manifestam as emoções.

O que um susto ou uma notícia violenta podem nos causar são "um soco no estômago", né não? Úlceras podem surgir decorrentes de uma vida estressante e cheia de preocupações. Em compensação, o riso nasce da barriga, como já disse o poeta Cisco Zappa. E quem há de contradizê-lo? Basta ver como a barriga se mexe com uma boa gargalhada.

Mas a barriga também chora, chora com a gente, copiosamente... E quando a gente tá com "o coração na boca"  foi a barriga que o levou até lá. Ou por acaso você acredita que o coração tem perninhas pra andar até a boca?

Além disso a barriga é um abrigo tão gostoso que, ao nascer, a gente chora de saudade.

Enfim, por tudo isso, pelo choro ou pelo riso, nossas barriguinhas merecem oferendas. Portanto e por tanto comam, comam comidinhas deliciosas e também comam-se, devorem-se (não, nada de canibalismo, digo no sentido sexual mesmo) e depois descansem barriguinha com barriguinha, é tão bom... Elas, as barriguinhas, agradecerão porque prazer, seja da gula ou da luxúria, passa pelo cheiro, pela boca e se refugia na barriga.

No mais, em minha modesta opinião, as barrigas tipo tanquinho que me perdoem mas uma gordurinha é fundamental! Existe coisa mais sem expressão (e emoção) que uma barriga tipo tanquinho?

PS: A barriguinha da foto é de Marilyn Monroe. Duvida?

quarta-feira, 4 de abril de 2012

poemas de Raul Motta e Jorge Caraballo



palavras que lutam

Raul Motta in Há Palavra

palavras que lutam 
são mais que palavras

palavras que lutam

são corpos

sãos

pontes sobre

vãos

palavras que lutam

aqui

agora

presentes
fazem da hora
hora de ação
palavras que lutam
negam o luto
são 
grito
e
oração 
que sigam sempre
ativas
altivas
vivas
em nós
as palavras
que lutam
por nós


***

Pátria

(poema visual do poeta uruguaio Jorge Caraballo feito na década de 70 durante a ditadura militar no Uruguai)




domingo, 1 de abril de 2012

Viagem à Lua com amour, imagination et rêve...

Viagem à lua (Le Voyage dans la Lune - 1902) é um clássico do cinema mudo, considerado um dos precursores das ficções científicas no cinema. Baseado no romance de Julio VerneDa Terra à Lua, o filme do francês Georges Méliès foi colorizado posteriormente com uma técnica manual onde os negativos são pintados quadro a quadro. Durante décadas desaparecido, uma cópia desse trabalho foi encontrada na década de 90. E em 2011 a obra foi lançada no Festival de Cannes com uma trilha sonora composta pela dupla francesa de música eletrônica Air - iniciais de amour, imagination e rêve (amor, imaginação e sonho). Não contentando-se em apenas sonorizar o filme, a dupla fez uma trilha sonora com quase o dobro do tempo com um instrumental que não se restringe ao eletrônico -  banjo, mellotron, piano, guitarra, bateria acústica e percussão compõem essa linda trilha para um clássico que tem influenciado gerações.

O filme, com pouco menos de 16 minutos, pode ser visto na íntegra aqui. Quem ama cinema não pode deixar de assisti-lo!

Segue uma palhinha com a música Sonic Armada do Air.






Nunca tinha visto Viagem à Lua, fiquei encantada...  a música do Air funcionou maravilhosamente! E ainda me lembrei de dois clips de música lindos: Tonight Tonight do Smashing Pumpkins (que faz referência direta à Viagem à Lua); e Busca Vida dos Paralamas do Sucesso. Os dois estão aí embaixo pra vocês conferirem.