terça-feira, 8 de janeiro de 2013

minha canequinha de inox


Quando era criança, sempre passava as férias escolares na casa de meus avós maternos, em Fortaleza. Certa vez, durante uma dessas férias, ganhei  de minha Vó Naida, uma canequinha de inox com meu nome gravado. Lembro que adorei! Achei o máximo! Nunca tivera nenhum objeto com meu nome. Fiquei me achando muito especial. Até que, ao visitar meus primos e primas, descobri que todos eles tinham uma caneca exatamente igual a minha, com seus nomes também gravados. E eu achando que era a única neta que tinha ganho aquele presente...

Bobagem, vaidade, meninice, não importa, fiquei um tanto decepcionada. Mas com o tempo passou, claro. Sempre gostei e cuidei com carinho da minha canequinha, coisa que alguns primos não faziam: as asas das canecas deles eram deformadas, provavelmente de tanto levar queda.


Quando entrei na adolescência abandonei a canequinha porque achava um tanto ridículo usar uma caneca de criança com meu nome gravado. Além disso tinha algo de burguês ou aristocrático naquela canequinha. E na adolescência eu idolatrava Che Guevara. Tinha lido uma biografia de El Che, contando a história da Revolução em Sierra Maestra e acreditei - juro - que só a revolução armada poderia salvar a humanidade do capitalismo. Ainda não sei como nos livraremos do capitalismo mas revolução armada já saiu,  há muito, dos meus planos...


Passaram-se os anos e minha canequinha permaneceu guardada - e abandonada - no armário da cozinha lá de casa. Mas quando saí pela primeira vez da casa de meus pais, não esqueci de levá-la comigo, seja pelo valor afetivo que representa ou por talvez intuir que um dia ela voltaria a ter utilidade.


Há dois dias resgatei minha canequinha do limbo no qual passara décadas. Mas não estou usando-a em casa. Levo-a em minha bolsa e quando entro em algum lugar que tem aqueles garrafões d'água, saco a bichinha e dispenso os copos plásticos (aonde quer que eu  vá, bebo água: Recife tem um calor dos infernos!).


E assim minha canequinha de inox burguesa adquiriu uma função social, sustentável, anti-consumo e, consequentemente, anti-capitalista. 


Carregada de valor afetivo, virou símbolo de meus pequenos gestos a favor de um mundo menos artificial, menos descartável, menos plástico!


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